17 agosto 2011

Introdução ao Estudo da Anatomia Humana

1.1 ETIMOLOGIA DA PALAVRA ANATOMIA HUMANA

A anatomia (do latim  ana =  em partes,  tomé =  cortar) é a ciência que estuda a estrutura (macro e microscópica) de nosso corpo, sua constituição (células  – tecidos  – órgãos  – sistemas – aparelhos) e seu desenvolvimento (fases da vida).

O termo morfologia (morfo = forma) é empregado como sinônimo de anatomia. Sendo que, na anatomia, a preocupação inicial é a descrição da forma. O conhecimento da forma auxilia no entendimento de sua função.

1.2 MATERIAL DE ESTUDO ANATÔMICO

Para o estudo anatômico do corpo humano, o material utilizado é o cadáver ou as peças cadavéricas.  Atualmente, o conhecimento deve ser transposto diretamente para a utilização prática e clínica do estudante, tornando-se viável a utilização de modelos anatômicos sintéticos, softwares específicos, exames de imagem e anatomia de superfície, aproximando o conteúdo básico do específico. 

A palavra cadáver é um velho acróstico latino. Caro data vermibus significa: carne dada aos vermes. Ao ser manipulado em sala de aula, a peça merece respeito e cuidado, a exemplo do legado transmitido por  Karl Von Rokitansky (1804-1878) (fig.01), médico e estudioso da anatomia patológica. Dissector obsessivo, ele nos deixou uma das máximas da anatomia: a meditação ao cadáver desconhecido.

Figure
Figura 01- Karl von Rokitansky. Fonte: http://radiographics.rsna.org/content/26/2/465.full


1.3 CONCEITOS DE NORMAL, VARIAÇÃO, ANOMALIA E MONSTRUOSIDADE

Normal: em anatomia é um conceito estatístico, representado pelo o que ocorre na maioria dos casos, o mais frequente. Ex: 20 dedos, coração com seu ápice inclinado para o lado esquerdo do corpo.

Variação anatômica: é uma alteração da forma ou posição do órgão, porém, não causa prejuízo na função. Ex: as alterações de posição que são visualizadas no sistema venoso superficial, são exemplos simples de variação anatômica.

Anomalia: é uma alteração da forma ou posição do órgão, que causa prejuízo na função, sendo compatível com a vida. Ex: ausência de membros (amelia), fenda palatina.

Monstruosidade: é uma alteração da forma ou posição do órgão, que causa prejuízo na função, incompatível com a vida. Ex: anencefalia (ausência do encéfalo).

1.4 FATORES DE VARIAÇÃO ANATÔMICA

Podemos citar diversos fatores que provocam variações anatômicas em um indivíduo, entretanto ressaltaremos os fatores relacionados com a entrevista de um paciente, sendo:

- Idade: já foi discutido que o biodesenvolvimento gera variações anatômicas. Podemos citar como exemplo que o número de ossos em um recém-nascido é em torno de 300. Já de um adulto jovem é de 206. Durante o desenvolvimento, há uma fusão de ossos;

- Gêneros: diferenças entre os gêneros masculino e feminino são visíveis externamente, como as genitálias, deposição de gordura, diferença da largura dos ombros em relação a largura do quadril (no homem, geralmente, os ombros são mais largos que o quadril);

- Etnia: as diferentes etnias provocam variações específicas no organismo, como: o aparelho locomotor do afrodescendente é muito mais resistente e capaz de gerar mais força, se comparado ao de um caucasiano de mesmo biótipo;

- Biótipo (são diferenças físicas, geralmente hereditárias, que podem ser alteradas por fatores ambientais). Os biótipos são classificados em:


Longilíneo: apresenta pescoço longo, tórax estreito e predominante sobre o abdome, membros   delgados e compridos;


Brevelíneo: pescoço curto, tórax largo, sendo menor que o abdome, e membros grossos e curtos;


Mediolíneo: apresenta características intermediárias entre os dois tipos anteriores.

1.5 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO

A constituição do corpo humano segue níveis de organização. A célula é a unidade básica, estrutural e funcional do corpo humano. As células com mesma característica se reúnem para formar os tecidos orgânicos. O corpo humano possui quatro tecidos fundamentais:


Epitelial (de revestimento), composto por células unidas por junções celulares especializadas (zônulas ocluentes, zônulas aderentes e junções comunicantes), o tecido epitelial atua como uma barreira, proteção, revestimento dos órgãos, absorção, secreção e revestimento da superfície do corpo.


Conjuntivo (ou conectivo); responsável pelo estabelecimento da forma do corpo. Estruturalmente, o tecido conjuntivo pode ser dividido em: células, fibras e substância fundamental, diferente dos tecidos epitelial, nervoso e muscular que são formados apenas por células. O tecido conjuntivo pode ser classificado com: tecido conjuntivo propriamente dito, que é o menos diferenciado, preenchendo os espaços e permitindo as trocas metabólicas e defesa; tecido conjuntivo denso, formado por fibras colágenas, elásticas ou reticulares, muito presente em tendões e ligamentos; tecido conjuntivo frouxo, o mais abundante no organismo, preenche os espaços não ocupados por outros tecidos, estabelece apoio e nutrição às células epiteliais, envolve nervos, músculos e vasos. O tecido conjuntivo apresenta uma ampla variabilidade celular e forma outros tecidos do corpo como: ósseo, adiposo, cartilagíneo e sanguíneo;


Muscular (caracterizado pelo poder de contração de suas células), a contração das células musculares é realizada após a estimulação elétrica (estímulo nervoso) e a utilização de ATP (adenosina trifosfato, molécula responsável pelo armazenamento de energia). São três tipos de tecidos musculares: estriado esquelético, estriado cardíaco e liso;


Nervoso (capaz de gerar e conduzir impulsos eletrolíticos), por meio de estimulações elétricas, o tecido nervoso é capaz de coordenar todas as ações orgânicas, e interagir com informações provenientes do meio externo.

Quando os diferentes tecidos se reúnem, temos a formação dos órgãos. A reunião de diversos órgãos, que desempenham atividades funcionais em comum, constitui os sistemas orgânicos

Os sistemas que possuem interdependência funcional formam os aparelhos (exemplo: aparelho locomotor – função de locomoção, formado pelos sistemas ósseo, articular e muscular). Por fim, os aparelhos constituem o organismo.

1.6 DIVISÃO DO CORPO HUMANO

O corpo humano é dividido em: cabeça, pescoço, tronco e membros. O tronco é uma grande área corpórea, sendo subdividido em: tórax, abdome, pelve, períneo e dorso.

Os membros superiores são divididos em: ombro (seguimento denominado de raiz do membro, pois está ligado ao tronco), braço, cotovelo, antebraço, punho, mão e dedos (os dedos são numerados de I a V, iniciando no polegar).

Os membros inferiores são divididos em: quadril (raiz do membro), coxa, joelho, perna, tornozelo, pé e dedos (os dedos são numerados de I a V, iniciando no hálux).

1.7 CAVIDADES DO CORPO HUMANO

São espaços em potencial (fig.02), que armazenam diversos órgãos.

Figura 02- Ilustração das cavidades corpóreas. 
Fonte: ttp://www.biologycorner.com/anatomy/intro/chap1_notes.html

1.8 POSIÇÃO ANATÔMICA

As descrições anatômicas tendem a relacionar a estrutura com a posição anatômica, padronizando e facilitando o seu entendimento (fig.03).

O indivíduo em posição anatômica:

- Está em pé (posição ereta ou ortostática);
- Cabeça voltada anteriormente e o olhar na linha do horizonte;
- Membros superiores pendentes ao longo do tronco, com as palmas das mãos voltadas anteriormente;
- Membros inferiores justapostos, com os dedos dos pés direcionados anteriormente.
Figura 03 - Posição anatômica. Fonte: http://www.courses.vcu.edu/DANC291-003/unit%201.htm

1.9 PLANOS DE DELIMITAÇÃO DO CORPO HUMANO

Tendo como referência a posição anatômica, tangenciam-se à superfície corpórea, planos que demarcam o corpo ou parte deste. Esses são denominados planos de delimitação. São eles:

Plano anterior, tangente à parte anterior do corpo;

Plano posterior, tangente à parte posterior do corpo;

Plano superior, tangente à parte superior do corpo (fig. 06);

Plano inferior, tangente à parte inferior do corpo;

Plano lateral direito, tangente à parte lateral direita do corpo;

Plano lateral esquerdo, tangentes à parte lateral esquerda.

1.10 PLANOS DE SECÇÃO DO CORPO HUMANO


Os planos de secção (ou de corte) dividem o corpo humano e são paralelos aos planos de delimitação. São quatro os planos de secção: dois planos sagitais, um plano horizontal e um plano frontal.

Os planos sagitais, divididos em: Plano sagital mediano: é paralelo aos planos laterais de delimitação, divide o corpo humano ao meio, em duas metades semelhantes (direita e esquerda); Plano sagital paramediano: é paralelo ao plano sagital mediano, dividindo o corpo em metades distintas. Os cortes sagitais paramedianos se estendem do plano sagital mediano até o plano lateral (direito ou esquerdo)


O plano horizontal é paralelo aos planos superior e inferior de delimitação, divide o corpo humano em partes superior e inferior. Os cortes horizontais se estendem entre os planos superior e inferior. O plano horizontal por vezes também é denominado de plano transversal.

O plano frontal é paralelo aos planos anterior e posterior de delimitação, dividindo o corpo humano em partes anterior e posterior. Os cortes frontais se estendem entre os planos anterior e posterior. O plano frontal também é denominado de plano coronal.

1.11 EIXOS DO CORPO HUMANO

Os eixos do corpo humano são linhas imaginárias que ligam os planos de delimitação. Os eixos do corpo são:  transversal (látero-lateral) se estende entre os planos laterais direito e esquerdo;  longitudinal (súpero-inferior) é o maior eixo do corpo, estende-se do plano superior ao plano inferior;  sagital (ântero-posterior) se estende entre os planos anterior e posterior.

1.12 TERMOS DE POSIÇÃO E DIREÇÃO


Descrevem as relações das partes do nosso corpo em posição anatômica:

- Anterior: voltado ou mais próximo do plano anterior;
- Posterior: voltado ou mais próximo do plano posterior;
- Superior: voltado ou mais próximo do plano superior;
- Inferior: voltado ou mais próximo do plano inferior;
- Medial: mais próximo do plano mediano;
- Lateral: mais próximo do plano lateral;
- Intermédio: entre uma estrutura lateral e outra medial;
- Proximal: mais próximo da raiz do membro;
- Distal: mais distante da raiz do membro;
- Médio: entre uma estrutura proximal, distal; superior, inferior, anterior e posterior;
- Superficial: mais próximo da superfície (acima da fáscia muscular);
- Profundo: mais distante da superfície (abaixo da fáscia muscular);
- Interno: no interior de um órgão ou de uma cavidade;
- Externo: externamente a um órgão ou a uma cavidade;
- Homolateral (ou ipsilateral): do mesmo lado;
- Contralateral: do lado oposto
- Oral: mais próximo da cavidade oral (utilizado para o trato gastrintestinal);
- Aboral: mais distante da cavidade oral (utilizado para o trato gastrintestinal);
- Montante: porção inicial do vaso sanguíneo;
- Jusante: porção final do vaso sanguíneo.

Fonte: http://www.imagingonline.com.br/biblioteca/Leandro_Nobeschi/introducao-ao-estudo-da-anatomia-humana.pdf. Disponível em 17 de agosto de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário